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domingo, 21 de novembro de 2010

Rádio Atitude Jovem realizou entrevista com a lendária banda punk, Os Replicantes, na última sexta-feira em Santa Maria












































Ao saber que a lendária banda punk Os Replicantes estaria em Santa Maria resolvemos viajar até lá, de ônibus de linha, para fazermos a cobertura pela Rádio Atitude Jovem, deste importante evento para a cena underground, onde embarcamos no bus Cruz Alta/Santa Maria, às 17 horas do dia 19 de novembro de 2010. Chegando a Santa Maria não foi difícil encontrar o local, o The Grove Music Hall, um verdadeiro lugar do caralho, para os adeptos da música underground, que apreciam um espaço reduzido, para curtir boa música e conversas pensantes. Logo já pudemos perceber que o público da cena punk local ia chegando aos poucos e assim começavam as primeiras rodas punks, ao som mecânico, que iam do clássico ao lado B do punk/hardcore do Brasil e do mundo. Entre rodas, conversas, cervejas e outras coisinhas, a casa foi lotando e fomos percebendo o andar da vocalista Julia e do baixista Heron entre a galera, entre passadas do camarim até os banheiros do bar.

Eis que já eram mais de meia noite, quando Os Replicantes começaram a tocar para mais de 150 pessoas, abrindo com o clássico Boy do Subterrâneo emendando com O futuro é Vortex, onde nos primeiros acordes e pegadas na batera, víamos uns verdadeiros clarões na frente do palco. A empolgação do público era intensa e a adrenalina de todos subia a todo o momento. O calor da festa subiu ainda mais, logo na terceira música do show, Maria Lacerda, a mais conhecida canção do novo álbum (Os Replicantes 2010). Canção esta que foi cantada por muitos, principalmente pelas mulheres, que puxadas pela vocalista Julia Barth, gritavam livres e com muita atitude o trecho: Ela estava certa, viva Maria Lacerda. Após retumbaram nos ouvidos dos punks, os clássicos acordes de baixo da clássica Sandina, para nenhum sandinista de plantão colocar defeito. E assim o show foi acontecendo, onde foram tocadas as músicas: Pra ver se eu conseguia, De sul a norte, Só mais uma chance (Pin Up) e Papel de Mau, até apresentarem uma canção muito lado B, do álbum Sexo e Violência, chamada Mistérios da Sexualidade Humana, que na voz da vocalista Julia, ficou intensamente sexy, por que ninguém melhor do que uma mulher para interpretar a letra que fala dos mistérios da Sexualidade e que diz em uma parte: de onde vêm os bebês... Por que sangrar todo mês?

Entre sons novos é clássicos a casa continuava a cair, foram elas: Sangue sujo, Hippie punk e a clássica Motel da esquina, que me fez lembrar de um cd ao vivo com qualidade de fita, que foi gravado em Cachoeira do Sul, no qual ao entrar desta canção o ex - vocal Gerbase diz: Cachoeira do Sul terra de muitos motéis e enfatiza motéis, risos. Após quase que emendada veio à canção Nicotina, que após o grito de muitos desde o começo do show fora executada, com os mesmos timbres dos anos 80. E é claro que regada a muita fumaça vindas dos crivos que foram acesos e alcançados até a vocalista Julia, que com muito carisma fumou e depois cantou, conseguindo deixar todo mundo muito louco. Na “sequela” veio à nova canção: Alguém explica e aí depois a clássica Surfista Calhorda, que marcou o ponto sonoro e agitado mais alto do festival, com as rodas mais intensas da noite, inclusive sobrando até para o segurança, que fora empurrado, caindo em cima do palco, marcando uma das cenas mais engraçadas da noite. Fato que fez com ninguém mais o enxergasse na frente do palco até o final do show, (seguranças e rodas punks nunca foram uma combinação perfeita). Também pudera, estas rodas foram tão fortes, que alguém iria tomar a pior, desta vez foi a segurança, caso típico em um show. O certo é que rodas como essas só acontecem com tanta efervescência no show dos Replicantes e na música Surfista Calhorda, que também pude observar, em 2004, no Fórum Social Mundial. Por isso, digo com todo a certeza, as viúvas do Wander Wildner não sabem o que estão perdendo, ao não assistirem o show da autentica banda Os Replicantes em 2010.

A seguir mais um clássico surgiu, Eu quero é mucra (esta mais recente do álbum a Volta dos que Não Foram), que interpretada com a voz e as mãos pela vocalista Julia, deixou o público delirando, com o refrão: Já estou cansada de mina bonitinha sonhando em ser modelo, silicone, no peito e na bundinha. Após veio mais algumas canções: Saí daqui, Chernobil, Solo é pra minhoca e para finalizar após muitos gritos e pedidos desde o começo do show, nada melhor do que Festa punk, que no titulo resume tudo o que aconteceu durante esta noite em Santa Maria. E como se não bastasse, a velocidade de festa punk, não foi suficiente para cansar os punks, que pediram bis e foram atendidos com a canção extremamente rápida: I Gonna Leave You, mostrando que mesmo após mais de 25 anos de carreira, a banda continua com a mesma pegada rápida, que uma conceituada banda de punk deve ter.

E para nos a festa e o trabalho prazeroso não acabara ali, pois ainda tínhamos a missão de entrevistar a banda no camarim. Então, após o apoio do camarada Rafinha (um dos donos do The Groove), conseguimos entrevistar primeiramente a Vocalista Julia Barth, após o Guitarrista Cláudio, o Baixista Heron e o Baterista Cléber Andrade, que com muita simplicidade nos atenderam muito bem. Mostrando-nos assim por que possuem tantos anos de carreira, sempre contando o respaldo e respeito do Movimento Punk brasileiro.

A vocalista dos Replicantes, Julia Barth, após ter sido questionada sobre o papel da mulher na música, nos disse: “A mulher sempre esteve presente na música, apesar de que em alguns momentos, este papel tenha sido denegrido, através das groupies, preconceito equivocado, pois elas possuem um papel importantíssimo, uma vez que historicamente sustentaram o rock e deram suporte aos homens. No punk existem muitas mulheres que marcaram época, a Joan Jett, a banda o Blondie que apesar de ser considerada New Wave é uma banda punk, um pouco mais romântica como os Ramones. As mulheres estão presentes em várias bandas punks há muito tempo, mas isso sempre foi muito pontual, principalmente aqui na nossa cena independente, a gente tem sempre uma visão machista de ter bandas masculinas, mas isso vem mudando, eu tenho muitas amigas tocando lá em Porto Alegre. Existem muitas mulheres cantando e compondo muito e fazendo grandes performances, como eu, pois não me considero uma grande “músico”: como cantora eu sou uma grande atriz! Não que eu deixe de lado a história da técnica, mas para o que eu faço no punk rock, às vezes a performance e a atitude são mais importantes. Não estou falando que não precisa existir afinação, mas tu não precisas ser uma grande cantora, pois no punk rock os homens não eram grandes vocalistas. O negócio é meter as caras, ter atitude e pegar junto, muitas vezes o lance é ser macho no vocal, risos. Temos que perder esta coisa de ter que cantar bonitinha, pois a gente e a vida não são bonitinhas sempre. As mulheres tem uma relação com a coisa da vida. Talvez mais fundamental que o homem, pois somos geradoras, mesmo nos sendo mais frágeis”.

A vocalista Julia ainda nos falou sobre a regravação da música dos anos 80, Terrorismo sem bomba (Original da banda os Cobaias): “A música é antiga, mas retrata o que a gente está vivendo atualmente, todos os dias, este pânico que a mídia nos passa, a questão dos Estados Unidos, o terror é muito subjetivo, o que é o terror? Mas existe uma guerra contra o terror, o terrorismo sem bomba é o que faz a gente achar que vamos entrar numa crise financeira a qualquer momento e que as coisas nunca irão dar certo e que seremos escravos de um sistema econômico ou de modos de comportamento. Tudo isso, por causa de uma ameaça de uma coisa não palpável, o terror. Eles dizem que a gente tem que se preparar para coisas ruins que podem acontecer. Eles querem que nós estejamos sempre preocupados, e não é assim que deve ser. Trazem uma maneira de nos escravizar, de nos manter aterrorizados com a violência, com as drogas e com o Rock n Roll, risos. Os Replicantes, por exemplo, apesar de tratarmos sobre temas sociais, muitas vezes falamos que queremos uma festa punk, que queremos nos divertir ou que queremos sexo, não estamos preocupados com o discurso político. Temos um compromisso social, mas estamos mais ligados em fazer uma música boa e divertir as pessoas.”

Julia finalizou a entrevista destacando sobre o cenário independente: “A cena independente segue firme, mas é complicada, temos que ter perseverança, pois nem sempre a gente consegue ter um retorno financeiro como gostaríamos, mas pensamos será que é isso que importante? Já que temos outros empregos que sustentam nossas casas. A pretensão não é mais virar rock star e viver muito bem só disso. Iria ser ótimo, mas a gente sabe que temos um momento, que é só nosso e que é tão importante, independente de dinheiro ou não o que aconteceu aqui, por exemplo, não tem preço. Estar junto com uma multidão de pessoas que gostam e acreditam no que a gente faz e que cantam junto, isso não tem preço, enfatizou a vocalista.”
O Guitarrista e fundador dos Replicantes, Cláudio Heinz, ao ser perguntado sobre a relação das novas mídias como instrumento de divulgação da música, nos disse: “Os Replicantes ainda não descobriram este lance de divulgação intensa, através da internet. Mas essa é a grande sacada, apesar de as pessoas ainda conhecerem as nossas músicas, através do modo de divulgação antigo, por meio das nossas gravadoras dos três primeiros discos, na época que a divulgação e a distribuição eram muito fortes. Por exemplo, existem pessoas que conhecem nossas músicas desde os anos 80, por causa deste trabalho que as gravadoras fizeram naquele tempo, somos lembrados no Belém do Pará, Recife, entre outros estados. Fizemos duas tours européias no circuito alternativo e muitos que foram nos nossos primeiros shows na Europa, nos acompanharam na segunda vez, que estivemos lá. Eu acredito que nós deveríamos dar este novo álbum, para as pessoas conhecerem mais os novos sons. Nos anos 90, mesmo sem gravadora, por exemplo, muitas músicas ficaram conhecidas nos shows, através de uma bagagem que já tínhamos, desde os primeiros discos.”

Claúdio ainda destacou, que a ideia é que a banda talvez volte a Europa em 2012: “Eramos pra ter ido em 2009, mas teve aquele lance da crise econômica, então resolvemos não ir naquele momento. Vale a pena tocar na Europa, temos bons contatos por lá, através do Zé Ex - No Rest, hoje da Bandinha que dá dó. Em relação à cena aqui no sul, eu acompanho as bandas que tocam em Poa e quando vamos no interior, pego os cds e depois ouço em casa, tenho uma certa frustração, pois como bom fã de punk rock e suas vertentes, eu gostaria que mais pessoas escutassem essas bandas independentes, que eu tenho acesso.”

Sobre a relação com os exs vocalistas Wander Wildner e Gerbase, Cláudio disse: “O Gerbase teve que sair da banda por causa de compromissos profissionais, ele é cineasta e professor de fotografia, ficava difícil pra ele conciliar com a banda, a gente também tem outros trabalhos, mas é diferente se consegue conciliar. O Gerbase me liga às vezes e fala sobre a banda, pois ele gostava muito de cantar conosco. Já a relação com o Wander é boa, nos damos bem. Eu sinceramente gosto mais do Gerbase, a gente tem um pouco de mágoa, por que o Wander é muito individualista, fizemos três bons discos e após isso, ele disse que queria sair da banda, para fazer carreira solo. Ele não leva a nossa simpatia, mais ele é muito bom músico é “afude”, fizemos coisas legais com ele, só que tem esse lance individual e que de repente, ele esteja certo, pois tem que sobreviver da música. Por exemplo, se a algum de nos deixar de tocar, não tem problema, o que talvez pra ele seja o almoço de amanhã. Por isso temos que entender este pensamento dele. Ele tem que sobreviver da música. E já nos temos outras atividades que nos mantêm.”

Heron Heinz ainda nos contou o que cada integrante faz além da atividade com a banda: “Eu trabalho na Prefeitura de Porto Alegre, há 15 anos como técnico de espetáculos, trabalhando com som e luz, direto com cultura, fato que me deixa bem triste, por verificar de perto a pouca importância que os governantes dão para a questão cultural. O Cláudio Heinz é Técnico em Informática, o Cléber é Professor de Educação Física e a Julia é agitadora cultural. A gente se vira e tocamos por que gostamos. Realmente isso é pra quem gosta e não é pra quem quer.”

Conforme o guitarrista e fundador dos Replicantes, Heron Heinz “O Replicantes em 2010, esta bacana, fizemos um show estes tempos relembrando todas as músicas do álbum Futuro é Vortex e quando tu vai ver tem músicas que faziam 20 anos que nos não tocávamos, daí tu pensa, mas fui eu e o Cláudio que fizemos elas e esta difícil de tira-las de novo, risos. O legal de ter uma longa história de banda é que podemos fazer vários set-lists e ir variando eles, dessa forma pessoal vai curtindo as nossas músicas, ainda mais agora com a Julia trazendo releituras, através do vocal feminino. Pretendemos fazer uma turnê de van por algumas partes do Brasil, mais ou menos nos moldes da que fizemos quando fomos a Europa. Queremos tocar todos os dias.”
Sobre a década de 80, Heron disse: “Essa época foi legal, a questão do bom fim, da Osvaldo Aranha e de toda aquela cena punk e o bacana disso tudo é que os bares de rock estão voltando naquela região.”

O baixista e fundador dos Replicantes, ainda destacou o trabalho que a Rádio Web Atitude Jovem, vem desenvolvendo na cena independente: “O que eu tenho a dizer é que vocês devem seguir nessa, fazendo isso, pois é um grande favor que vocês estão fazendo para o público roqueiro e para os músicos. Vocês estão de parabéns.”
Conforme o baterista dos Replicantes, Cléber Andrade, “Estávamos conversando com os alunos da Universidade ontem em São Borja, sobre a questão de a arte ser atemporal e Os Replicantes tem muito disso, pois tocamos músicas de 20 anos atrás e que se parecem atuais e o legal disso é que o público desta nova geração jovem conhece e se identifica. Aí está um dos lados legais da música, na arte as coisas perduram e isso só acontece com as bandas autênticas, não com as das modinhas, pois estas são passageiras. Quando você faz algo que acredita, as coisas se perpetuam. Tenho um projeto social na área da Educação Física, trabalho com crianças de rua e sempre que possível, a gente passa o lema faça você mesmo, fazendo com que os mesmos busquem as suas histórias e acreditem na cultura e no esporte, quebrando com este estigma de que a música é para poucos, sendo da elite.”

Sobre o cenário independente, Cléber percebe que Os Replicantes em 2010, estão conseguindo tocar em vários locais, “tocamos na semana passada em Passo Fundo, ontem em São Borja e hoje em Santa Maria e isso esta sendo muito legal, pois fazia um bom tempo que a gente não tocava nestas cidades. O cenário esta tendo uma retomada, mas é aquela história, existem lugares que tem pessoas legais, que fazem as coisas acontecerem. Tivemos o exemplo aqui em Santa Maria, ontem em São Borja, onde um professor criou uma cadeira na Universidade, chamada Sociologia do Rock e que a partir daí junto com os alunos, fundaram o festival Pampa Stock, que irá acontecer por muitos e muitos anos e que teve mais de 50 bandas inscritas nesta última edição. Então é isso, as pessoas têm que ter vontade de correr atrás e fazerem as coisas acontecerem.”

Para concluirmos esta release percebemos que entre canções novas e antigas, Os Replicantes em 2010, continuam com o mesmo pique, pegada e autenticidade dos anos 80, através de muita atitude e persistência dos fundadores, Heron Heinz (Baixista) e Cláudio Heinz (Guitarrista), que junto com a originalidade e inteligência do baterista Cleber Andrade e a presença de palco incansável, da nova vocalista Julia Barth, nos dizem por que Os replicantes são uma lenda viva do punk, após dez cds gravados e mais de 25 anos de carreira. Realmente posso dizer aqui com toda certeza que os caras e a mina, estão mais vivos do que nunca e que as canções da década de 80, nos mostram ser muito atuais, levando um ideal aos mais novos, que mesmo sem ter vivido na época das suas criações, hoje em dia, podem acompanhar este legado constante, que as músicas deixaram e continuam deixando para a história do movimento punk e para o mundo como filosofia de vida, diversão e crítica social. E então após a entrevista, ainda conseguimos assistir um pedaço do show de encerramento com a antiga banda santamariense TSF, que conseguiu segurar o público até as 5 horas da manhã, quando encerraram a apresentação, derrubando a bateria no chão, sem contar que um dos integrantes encerrou o show semi nú. Mostrando mais uma vez, muita atitude depois de mais 8 anos de banda. Após o evento fomos realizados e honrados para a rodoviária, onde esperamos o embarque das 5 horas e 45 minutos. Chegando em Cruz Alta, por volta das 07 horas e 45 minutos do dia 20 de novembro.

Mais informações sobre o novo cd: Os Replicantes 2010, você encontra no site www.osreplicantes.com.br

Release e entrevista by Jornalista Diones Biagini.

4 comentários:

  1. muito boa entrevista e a iniciativa da radio de trazer essas lendas dando sua visão atual das coisas
    parabens ai diones

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  2. ok brother...também estive por lá ...
    mas não suportei a desorganização técnica....queimaram até dois cabeçotes por ligarem oquê era em 110 em 220 volts...Eram 13.40hs quando me retirei...tinha agenda p/ cumprir sábado...pena....
    bonita cobertura...Parabéns!!!

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  3. Putz! Que honra entrevistar Os Replicantes, hein?
    Parabéns!!!

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